Ainda lembro o dia que saí da loja, bonita, lustrada, recém-entalhada, com um dos mais finos colchões. Sonhava em morar numa casa de família, num quartinho arrumado, paredes bem vedadas, sem infiltrações(que apodrecem a madeira), sem cupins. E sem crianças. Não é que eu não goste de crianças... mas é que elas chegam correndo, se atiram em cima de você(não há lastro que aguente). Mas não posso reclamar, nunca deitaram-se crianças aqui... Bem, saindo do sonho e voltando á realidade, vou lhes contar minha história. Não realizei meu sonho. Hoje vivo numa casa mal cheirosa, cheia de infiltrações(graças a Deus não há cupins), ratos, teias de aranha, etc... E o pior não é isso. O pior são as pessoas que vem deitar em mim, vem fungar, gemer, derramar bebida, toco de cigarros, quebrar meus lastros(grandes amigos nas horas de solidão...), só esse ano já foram três... eu não moro numa casa de família. Moro num estabelecimento "comercial" que os homens chamam de motel. Não daqueles com camas giratórias, videocassete, dvd, frigobar, esses luxos todos, mas sim daqueles bem chulé, situados em edíficios mais antigos que a minha avó, que era pinus da melhor qualidade... Tremo só de pensar, quando um desse bebuns, vem pra cá e começa a brigar com a Raimunda (a rima você já sabe, né?) e eu acabo pagando o pato por ser tão indefesa... semana passada, o Jorjão, que é o gigolô dela, não gostou do faturamento e desandou a me chutar, logo eu que não tenho nenhuma responsabilidade com o desempenho dela, não doeu, mas me custou uma pata(ou perna) que até hoje não foi reposta. No lugar colocaram um tijolo pra quebrar o galho... bem, chega de queixas, pelo movimento chegou mais um cliente... ô vida... Criada em 30/05/92 Para ler mais: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=34202