sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A verdade gritando em Atos dos Apóstolos - Maaseh Shlichim



Em 2017 tive um longo período acamado. Não cheguei a ficar internado, mas segui trabalhando e não foram poucas as vezes que fui levado às pressas e até desacordado para hospitais. Foi uma época bastante difícil. Morava sozinho e tinha algo que me sobrava: Tempo. Estava participando de uma denominação evangélica a 3 quadras da minha casa. Na minha trajetória como cristão já tinha ficado 12 anos na Igreja Luterana, estive um tempo de uns 6 anos sem congregar, voltei a congregar na empresa do RR Soares e na época em que estava doente estava congregando a cerca de dois anos em uma comunidade batista.  Tempo para estudar as Escrituras não me faltava. E me propus a isso mesmo, não apenas ler, nem maratonas capítulos, estudar as Escrituras. Quando acordei, estava na mesma situação em que estou agora: concluindo o evangelho de João e iniciando o estudo pormenorizado dos Atos dos Apóstolos. Um dia acordei e percebi uma realidade urgente: para uma igreja ser bíblica neo testamentária, tem de seguir o padrão da igreja de atos. Em palavras, ações e ensinamentos. E não me refiro aos milagres, muita gente só consegue ver isso no livro de Atos. Me refiro a integridade e critérios. No estudo diligente, detalhado, sério, responsável do livro de Atos acordei para as seguintes realidades.


1 - A igreja padrão do Criador não era templocentrista. 

Por toda a Bíblia, antigo e novo testamento, na vida diária do povo judeu o templocentrismo era uma coisa muito forte. Nas religiões romanas e outras pagãs também. Jesus Cristo veio quebrar esse padrão. Se reunia com seus discípulos e com todas as pessoas nas ruas, em locais públicos urbanos, na casa de pessoas, as mais variadas, que desejavam ouvi-lo, nos bosques, beiras de rios, praias, e no mais perto de um templo que o Messias chegou, no pátio. 


Quando o Cristo foi crucificado, ressuscitou e ensinou seus alunos por mais quarenta dias, até em salão emprestado o mestre se reuniu com eles. Mas nunca dentro de um templo. Quando os apóstolos começaram a cumprir a missão delegada pelo Mestre, podiam ter construído templos, suntuosas construções que estaríamos estudando hoje, mas não, se limitaram a fazer o que o Criador encarnado fazia como exemplo, usavam o pátio do templo, as sinagogas, e todo e qualquer local publico ou privado onde houvesse alguém que quisesse ouvir o evangelho. O evangelho libertou as pessoas do templo de Jerusalém. Dos sacrifícios, rituais e oferendas. Libertou as pessoas e sua espiritualidade de locais sagrados. Romarias. Peregrinações. Mas então, onde foi que isso voltou a fazer parte do dia a dia dos cristãos?

Foi quando o imperador romano Constantino se "converteu" ao evangelho. Só no terceiro século d.C os alunos do Messias representados pela geração que então existia, começaram a se reunir em templos criados para isso. Constantino criou um cristianismo pagão. Resultado de uma imensa salada que misturava as religiões representadas no império com uma maquiagem cristã. Elementos do judaísmo agregados e adaptados aos ensinos do Messias de forma a torcer suas palavras criaram o sistema templocentrista judaico cristão. Sendo o Catolicismo Apostólico Romano a primeira denominação templocentrista. O resto da história vemos presente até hoje.
 Com o advento da ICAR toda a vida da igreja centralizou-se no templo. Reuniões? Templo. Batismo? Templo. Casamento? Templo. Festas? Templo. O templo virou o centro da vida cristã. E daí vieram os outros males que assolam a igreja.

2. A igreja padrão do Criador, não tinha classe sacerdotal profissional. 


Vamos chamar a igreja de Atos dos Apóstolos de igreja primitiva certo? A igreja primitiva não tinha classe sacerdotal profissional. Não tinha hierarquia. Um que manda no outro, que manda no outro, que manda no outro. O que tinha então? Tinha os onze discípulos do Mestre. Que depois se tornaram apóstolos. A função deles não era comandar, dirigir, era administrar, ensinar, orientar. Eles não eram homens infalíveis cuja autoridade era quase governamental. Eles nem sequer se envolviam com o poder temporal, com a política da época. Eles falavam e ensinavam outro Reino. O Reino do Criador. Do Messias encarnado. Onde o mais importante não era quem dominava e sim quem servia. E era isso que a igreja primitiva fazia. Servia. 

Não existiam cargos na igreja primitiva. Existiam funções, tarefas a serem cumpridas e pessoas aptas e responsáveis para cumpri-las. Não existiam cargos de padre, pastor, bispo, missionário, apóstolo. Quando alguém falava do apóstolo Paulo, por exemplo, não se referia a um homem bem vestido, bem alimentado, líder de uma igreja numerosa e lucrativa. Uma empresa eclesiástica. Se referia a um homem modesto que tinha autoridade, mas não era autoritário, que era perseguido e caluniado, sofria prisões, naufrágios, fome e sede. Ele e os outros apóstolos. Quando eles, os apóstolos recolhiam algum donativo, não era para si mesmos, mas para os pobres da igreja. Os enviados do Mestre a todas as nações não eram homens vestidos com roupas caras, anel de ouro nos dedos, líderes que comandavam e manipulavam as vidas de hordas de incautos. Eram homens que comiam, bebiam, precisavam de abrigo, mas não viviam no luxo. Isso nos diz muita coisa. E nos leva ao próximo assunto.

3 - A igreja Padrão do Criador não recebia dízimos e ofertas.

E aqui começa uma grande discussão. A relação da igreja com o dinheiro. Alguns se duvidar matam ou morrem pelo direito de ter muito dinheiro. Só esse apego já é questionável na vida de um cristão. Os líderes da igreja primitiva precisavam de dinheiro? Claro que sim. Todos precisamos enquanto estamos na matéria. Mas a chave de tudo isso é sútil. Situa-se na sútil diferença entre salário e sustento. Salário é o dinheiro que vc recebe em pagamento de um trabalho profissional realizado. Sustento é o que vc precisa para sobreviver e ter saúde. Comer. Beber. Ter onde dormir. Como se abrigar e vestir. Como cuidar da saúde. O salário pode prover sustento. Mas também pode ir além do sustento e prover riqueza. 

Acúmulo de dinheiro. Na relação da igreja primitiva com o dinheiro, está o desapego. Os apóstolos precisavam comer, beber, vestir, se abrigar, dormir? Precisavam. Quando o Cristo ensinou por 1260 dias ele tinha pessoas que o proviam. Antes de partir em sua missão, o Messias trabalhava como carpinteiro. Quando sua missão começou e ele escolheu seus alunos, os 12 e depois os 72, se alguém lhe convidava para uma refeição, ele ia. Se alguém lhe convidava para pernoitar, ele ia. Se alguém lhe oferecia algum dinheiro para que ele e seus discípulos comprassem algo para comer durante as viagens, ele aceitava. Mas ninguém nunca viu o Messias recolhendo dízimos e ofertas. Depois quando os apóstolos foram enviados às nações prosseguiram fazendo a mesma coisa. A mesma prática. Em Atos dos Apóstolos vc nunca verá um deles fazendo apelo para recolher dízimos e ofertas. Então qual a relação da igreja primitiva com o dinheiro? Simples. Eles não tinham ostentação. Usavam o dinheiro que precisavam para seu sustento e sustento dos seus. Tinha arrecadação de dinheiro na igreja primitiva? Tinha. É impossível viver sem ele na nossa realidade material. Mas TODO o dinheiro arrecadado, era destinado a ser repartido em partes iguais para os pobres da igreja. E depois para os pobres em geral. Os apóstolos recebiam ajuda, quando em viagem, de pessoas da igreja. Quando não viajavam, trabalhavam. Eles tinham suas profissões. 

Mas TODO, a totalidade, o 100% do dinheiro arrecadado voluntariamente, veja não tinha campanha, não tinha voto, não tinha novena, TODO o dinheiro arrecadado era repartido em partes iguais aos pobres. De forma que, não faltava nada para ninguém. Nem comida, nem bebida, nem vestuário, nem saúde. Os líderes servos da igreja primitiva, administravam mas não enriqueciam. Isso nos leva ao próximo fato, a próxima característica da igreja padrão de Cristo. O padrão do Criador.

 4 - A igreja padrão do Criador era conhecida pelo amor. 

Pelo que a igreja hoje é conhecida? Pelos lucrativos congressos pentecostais? Pelos profissionais e luxuosos shows de música gospel? Pelos políticos que usam como curral eleitoral as empresas eclesiásticas? Sim. Por tudo isso. Ao findar o estudo de Atos dos Apóstolos entrei em crise. Jamais havia conhecido uma igreja que seguisse o padrão do Criador.  Durante minha trajetória no sistema templocentrista judaico cristão conheci boas pessoas. Indivíduos que praticavam em suas vidas um ou vários dos princípios da igreja primitiva. Conheci pessoas ricas que repartiam suas riquezas com outras pessoas com bastante generosidade. Pessoas que serviam o próximo com amor e carinho. 

Indivíduos que são uma luz em meio às trevas que a igreja se tornou como instituição. Mas esses indivíduos existem apesar do sistema judaico cristão. Existem pq foram de fato tocados pelo evangelho do Cristo. Pessoas que se tornaram parecidas com Cristo pela sua busca pessoal e solitária de instrução, conhecimento e sabedoria. Pq o sistema não cria cristãos de verdade. Cria um gado para ser escarnecido. Um curral para sustentá-lo. Hoje existem milhares de cristãos que nunca, jamais, visitou um doente. Que em hipótese nenhuma matou a fome de alguém. Que nunca aliviou o frio. Que nunca emprestou o ouvido. A compreensão disso me fez questionar. Eu jamais havia conhecido uma igreja assim. Apenas bons indivíduos. Alguma ou outra excessão entre lideranças. Algumas empresas eclesiásticas ainda fazem a campanha do quilo. Outras nem isso. Quando terminei o estudo de Atos dos Apóstolos estava arrasado. Comigo e com os outros. Hoje congrego com um grupo de pessoas que está em um bom caminho. Que continuemos assim é o meu desejo para com o Criador.



Um comentário:

  1. Sim verdadeiramente o Livro de Atos norteia como devemos conviver como cristãos. É preciso lançar um novo olhar nas Escrituras e entender o propósito e a missão do Cristo.

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