segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Senegalês socorre idosa em trem no RS e chama atenção de passageiros


Imigrante era enfermeiro na África e já está há um ano e meio no Brasil.
Senhora caiu durante trajeto do trem entre São Leopoldo e Novo Hamburgo.

Hygino VasconcellosDo G1 RS
Senegalês presta socorro para passageira do trem (Foto: Ulisses da Motta Costa/Arquivo Pessoal)Senegalês presta socorro para passageira do trem (Foto: Ulisses da Motta Costa/Arquivo Pessoal)
O socorro de um imigrante africano a uma idosa chamou a atenção dos passageiros de um trem que se deslocava de São Leopoldo para Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, Rio Grande do Sul. A situação aconteceu na última sexta-feira (25), quando o senegalês Moussa Sene, de 34 anos, voltava para casa e se deparou com um casal de idosos de pé, no vagão lotado.
No caminho, ele encontrou duas amigas, uma delas a jogadora de vôlei Camila Lanner Mapeli, de 34 anos. Poucos segundos depois do trem partir da estação Rio dos Sinos, em São Leopoldo, a idosa caiu e machucou o nariz. Moussa correu até o casal. "A gente disse, 'espera, espera que ele é enfermeiro'", diz Camila.
Ela disse várias vezes para mim, muito obrigado, muito obrigado por ter salvo minha vida."
Senegalês Moussa Sene, de 34 anos
O africano, que trabalhava como enfermeiro no seu país de origem, levantou a mulher e a colocou em um dos bancos do trem. A idosa tinha dificuldades para respirar e reclamava de dor de cabeça, o que indicava uma crise de pressão alta. Com as mãos, ele passou a medir os batimentos cardíacos da idosa. Em seguida, deu água para a passageira e, aos poucos, a mulher começou a melhorar.  "Ele fez tudo isso com um tranquilidade impressionante", diz Camila.

O trem parou na estação Santo Afonso, em Novo Hamburgo, onde a idosa foi atendida por funcionários da Trensurb. Já Moussa e as duas amigas seguiram para o Centro da cidade. Antes de deixar o vagão, a idosa agradeceu a atenção do imigrante. "Ela disse várias vezes para mim 'muito obrigado, muito obrigado por ter salvo minha vida'. Acho que se tivesse passado mais alguns minutos, ela não teria sobrevivido", conta Moussa.

Agora a intenção do imigrante é conhecer a idosa que ele ajudou. "A gente não sabe o nome da senhora nem nada. Ela iria se encontrar com o filho em Novo Hamburgo e acabamos nos desencontrando quando ela desceu na estação Santo Afonso", explica Camila.

Senegalês quer voltar a trabalhar com enfermagem
A ideia do senegalês é de voltar a trabalhar com enfermagem. Já deixou alguns currículos na Região de Metropolitana de Porto Alegre, com a ajuda das amigas, mas até o momento não teve nenhum retorno positivo. Há cerca de cinco meses, o imigrante trabalha em uma fábrica de bebidas em Sapucaia do Sul.

Parte do salário é transferida, de três em três meses, para manter a família que ficou no Senegal: a esposa de 23 anos e os dois filhos, uma menina de 2 anos e um menino de 5 anos.  Futuramente, o imigrante pretende trazê-los para morar no Brasil. "Sinto muita saudade deles, muita mesmo", relata o africano.

O imigrante está há 18 meses no Brasil. Desembarcou em São Paulo, onde ficou apenas uma semana. Em seguida, foi para Cascavel, no oeste do Paraná. Por lá, trabalhou em um frigorífico, mas achou o trabalho muito pesado e, depois de um mês, resolveu apostar em uma nova mudança, agora para o Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, na Serra gaúcha, ficou um mês e 15 dias. Depois se dirigiu para Novo Hamburgo, onde está até hoje. 

Relato de atendimento de imigrante ganhou repercussão no Facebook
Homem faz post no Facebook sobre imigrante Senegalês no RS (Foto: Reprodução/Facebook )Homem faz post no Facebook sobre imigrante senegalês  (Foto: Reprodução/Facebook )
O atendimento do senegalês à passageira do trem foi flagrado pelo diretor e produtor Ulisses da Motta Costa, que em sua página do Facebook, relatou o que aconteceu dentro do vagão. O post acabou ganhando repercussão e, por volta das 15 horas deste domingo (27), já tinha sido compartilhada por 20 mil pessoas. O relato recebeu 45 mil curtidas e rendeu 2,6 mil comentários.
Ulisses conta que, após a idosa desembarcar na estação Santo Afonso, conversou com o imigrante.  "Ele foi enfermeiro durante 15 anos na sua terra natal. (...) Ele a manteve deitada no chão numa posição que aliviava a pressão das artérias, até ela melhorar. Ele achava que, se ela não tivesse recebido atendimento rápido, poderia morrer em 10 minutos", relata o diretor. O produtor questionou se o diploma do africano era válido no Brasil, o que foi confirmado pelo Moussa.

No final da conversa, ele agradeceu a presença do imigrante em sua cidade. "Disse para ele: 'que bom que tu estavas aqui'. E disse: 'seja muito bem-vindo'", relatou Ulisses. "Enquanto alguns acham que eles "trazem doença" (sim, já li isso), que são terroristas, que são treinados para a guerra; um deles fez mais pela humanidade em cinco minutos do que este tipo de crápula fará sua vida inteira", complementa.

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