Foram 23 anos de agonia.
O maior rival ostentando o título mundial.
A recordação dia após dia que o mundo foi azul.
E nunca vermelho.
Até que chegou o dia da revanche.
De tirar da alma aquela angústia.
De quem só é um Chimango ou Maragato pode entender.
17 de dezembro de 2006.
O mundo se dobra diante da força do Internacional.
Por trás da maior conquista está ele.
Levantou a taça porque mereceu.
Fernandão, o grande capitão que entrou para a história.
E que infelizmente morreu hoje, em um acidente pela madrugada.
O helicóptero em que viajava caiu em Aruanã, interior de Goiás.
Perdeu a vida com apenas 36 anos.
A reação foi espontânea.
Tanto em Porto Alegre como em Goiânia.
Os torcedores do Inter e do Goiás irmanados na dor.
O sentimento mais lancinante, rasgado foi mesmo em Porto Alegre.
"Ele foi o jogador mais importante da história do Inter.
Se não fosse por ele, o time não seria campeão do mundo.
Exerceu uma liderança invejável.
Com a bola nos pés e principalmente no exemplo.
Extremamente participativo.
Animava, empurrava os companheiros para a vitória.
Com uma cultura acima da média me ajudou.
A motivar a torcida, o time.
Trocava ideias importantes com o técnico do time.
Fernandão foi a alma do Inter campeão do mundo.
Merece todas as homenagens do nosso torcedor.
É uma dor imensa saber de sua morte.
O Inter vai fazer todas as homenagens possíveis.
E mesmo assim serão muito poucas pelo que fez por nós."
As palavras emocionadas são de Fernando Carvalho.
Homem que revolucionou o clube.
O Inter estava extremamente decadente e endividado.
Carvalho conseguiu sanear as contar.
Arrumar parceiros para investir no clube e no time.
Ele contratou o jogador do Toulouse.
Desde a chegada sua identificação foi absoluta.
Atacante, alto, forte, definidor.
E também muito inteligente.
Definia a jogada saindo da rotina.
Cabeceava bem e era técnico e ágil, apesar do 1m90.
Foi logo de cara marcando o milésimo gol em Grenais.
Só quem é de um dos lados do Guaíba sabe o que isso significa.
Cartão de visitas melhor impossível.
Já ganhou a gratidão eterna dos colorados.
Mas ele queria muito mais.
Sua voz começou a ser ouvida nos vestiários.
Dava palpites, orientava, cobrava.
E mais do que tudo, dava exemplo.
De uma vez só virou braço direito de Abel e Fernando.
O treinador e o presidente do Inter o ouvia.
Principalmente antes das principais decisões.
Era o capitão do time.
E sabia do sonho dourado do clube que passou a amar.
Vencer a Libertadores e o Mundial.
Se superou.
Foi Falcão, Figueroa, Valdomiro, Dario, Manga.
Figura responsável pela Libertadores e no Mundial.
Vibrou como nunca na vitória sobre o São Paulo.
E mais ainda contra o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho.
Levantou as duas taças e as levou para o Beira Rio.
Nem parecia filho de Goiás.
Menino de classe média que deveria administrar as terras do pai.
Pensou em ser veterinário.
Mas o futebol mudou seu destino.
E o Internacional sua vida.
Ou sua vida mudou a do Internacional.
Foi o líder que o clube esperou desde a sua fundação.
Levou a bandeira colorada ao lugar mais alto da Terra.
Foi ganhar dinheiro no Catar.
Voltou para o Goiás e passou rápido pelo São Paulo.
Mas o melhor momento de sua carreira como jogador foi do Inter.
As lágrimas e a romaria de torcedores ao Beira Rio mostram.
São o reconhecimento ao inesquecível ídolo.
Sua vibração, os cabelos esvoaçantes, o sorriso.
A comemoração de cada gol importante com os companheiros.
Os trazia para a torcida.
Conseguia emocionar o mais ranzinza dos colorados.
O choro é verdadeiro, sofrido.
Assim como o reconhecimento respeitoso dos adversários.
Até dos maiores inimigos de azul.
Reconhecem o guerreiro que tiveram de enfrentar de vermelho.
O futebol brasileiro está de luto.
Ouve os soluços de saudade de quem representou tanto.
De quem honrou a braçadeira de capitão como ninguém.
Que os deuses reservaram o privilégio.
Levantar a taça da Libertadores e do Mundial no Japão.
Fernandão não foi apenas um jogador.
Foi mesmo o maior símbolo vencedor que pisou no Beira Rio.
Sua partida aos 36 anos foi um choque.
Uma tristeza incrível que só aumentará a idolatria.
O transformará em mito.
Aposentem se quiserem a camisa 9 colorada.
Mas que a diretoria do Inter construa um estátua em frente à nova arena.
De preferência com Fernandão sorrindo.
E levantando com orgulho a taça de campeão do mundo.
Que o escultor capriche.
Principalmente no olhar da estátua.
Quem a enxergar precisa reverenciar.
Entender todo o orgulho que cada colorado sentiu naquele instante.
Naquele 17 de dezembro de 2006.
O dia em que Fernandão mostrou com raiva.
A santa ira dos conquistadores.
Finalmente o mundo era vermelho.
Descanse em paz, guerreiro.
Você não morrerá nunca.
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"Fernandão não morrerá nunca. Não para aqueles que a sorte deu um coração colorado. Descanse em paz, guerreiro e maior ídolo do Internacional…"