terça-feira, 4 de abril de 2017

PORQUE A “DIVERSIDADE” NA DC É MELHOR RECEBIDA DO QUE A NOVA “DIVERSIDADE” NA MARVEL

dcvsmarvelMais uma polêmica opinião de Nano Falcão!

Uma matéria no Bleeding Cool na semana passada me chamou a atenção sobre a inserção de dois personagens gays na série de TV da Supergirl, e suas repercussões, em geral positivas, junto ao público. Principalmente porque recentes iniciativas do mesmo naipe pela Marvel não foram tão bem recebidas assim. E daí vem a diletante pergunta: o problema estaria no público ser “preconceituoso” realmente?
É fato que a Marvel nos últimos dois anos tem trocado todo o seu cast principal majoritariamente de homens brancos e heteros por mulheres, ou minorias étnicas, sexuais ou religiosas. E se puder unir mais de uma característica dessas em um único personagem, parece ser a preferência da Marvel. Ao mesmo tempo que isso ganha simpatia na mídia especializada em geral, por outro, muitos fãs de longa data da editora tem rejeitado as novas personagens, e as vendas da editora tem caído.
A DC, por outro lado, tem reformulado sua linha com a fase “Rebirth”, onde enfatiza os aspectos “icônicos” dos personagens, isto é, como eles são conhecidos pela maioria das pessoas: o Batman ainda é Bruce Wayne, a Mulher-Maravilha é a princesa Diana, o Superman tal como o conhecíamos está de volta. A medida provou-se um sucesso e deu a DC a liderança do mercado de quadrinhos. Seriam a DC e os leitores mais conservadores?
Muito pelo contrário. Afinal, Maggie Sawyer, que está fazendo bastante sucesso na série de TV da Supergirl não nasceu ontem. Ela surgiu nos quadrinhos nos anos 80, em outra famosa reformulação do Superman executada por John Byrne na época. Assim como não nasceu ontem a Batwoman, que voltará a ter sua própria revista em fevereiro, após uma calorosa acolhida dos leitores na atual fase da Detective Comics. A personagem se tornou a primeira super-heroína gay a ter sua própria revista por uma grande editora em 2011, já por ocasião dos “Novos 52”. Batwoman também em breve estará marcando ponto na TV, como anunciado pelos produtores de Supergirl.
Mas então porque Batwoman sim, e Homem de Gelo não, estariam se perguntando os leitores. Talvez tenha tudo a ver com a forma como as coisas são feitas. Em 1999, Warren Ellis criou o primeiro casal de super-heróis gay, Apolo e Meia-Noite, dupla que recentemente ganhou sua própria mini-série, após Meia-Noite estrelar pelo menos duas séries solo. Eles protagonizaram o primeiro “casamento gay” de uma grande editora de quadrinhos em 2002, muito antes da Marvel pensar em fazer marketagem com o Estrela Polar, em 2012.
Apolo e Meia Noite
Batwoman, Maggie Sawyer, Renee Montoya, Apolo, Meia-Noite, tem um grande diferencial em relação ao Homem de Gelo: eles foram já concebidos como sendo personagens gays. A DC não alterou um personagem de cinquenta anos já conhecido pelos leitores ignorando totalmente seu histórico para trazer mais diversidade para seus quadrinhos. Da mesma forma, o Cyborg sempre foi negro, desde que criado por Marv Wolfman e George Perez em 1980. Foi um movimento semelhante ao que a Marvel tinha feito com Pantera Negra, em 1966, Luke Cage em 1972, o Falcão em 1969, e a própria DC com o Raio Negro em 1977. Mesmo John Stewart, o primeiro super-herói negro da editora, em 1971, não substituía o Lanterna Verde existente, o popular Hal Jordan. Era apenas outro Lanterna, já que o conceito do personagem permite você estabelecer heróis similares sem a necessidade de destruir os existentes. O que tem sido o principal erro da Marvel no caso.
Por exemplo, em 2012, a DC apresentou um novo lanterna verde negro, e desta vez mulçumano,. Isso não significou o fim de nenhum dos queridos lanternas anteriores. Há muito tempo os editores sabem que cada leitor tem seu Lanterna preferido. Simon Baz só adicionava mais um “sabor” no cardápio. Mas faltava uma Lanterna feminina que fosse da Terra, e que fosse latina, e eis Jessica Cruz, agora na iniciativa “Rebirth”. Mas Hal, o Lanterna “icônico”, que todo mundo conhece, continua com sua própria revista.
Diversidade DC
Já a Marvel achou por bem transformar o Capitão América num nazista, arrancar um braço do Thor, MATAR o Wolverine, MATAR Bruce Banner, INCAPACITAR Tony Stark, e assim por diante, enquanto os substituía por suas novas versões “diversificadas”. Um verdadeiro TAPA na cara dos leitores que por décadas sustentaram essa indústria antes de Hollywood perceber que isso geraria uma boa grana.
A DC não é menos diversa que a Marvel. A diferença é que a diversidade nunca foi uma “moda” estabelecida do dia pra noite, pra surfar no que parecia ser o “zeitgeist” geral antes da eleição de Donald Trump. Desde a criação da Mulher-Maravilha, nos fins de 1941, uma super-heroína que não apenas é mulher, mas sempre foi identificada com o feminismo, a DC já faz “empoderamento”. E não precisou colocar uma saia no Superman pra isso, bastou criar uma prima pra ele, em 1959. Nem uma calcinha no Batman, bastou criar também uma Batgirl, em 1966.
Hoje um dos gibis mais vendidos da DC é o da ARLEQUINA, personagem de tanto sucesso, que além de figurar na revista do Esquadrão Suicida, tem DUAS revistas próprias nos Estados Unidos. De tantos dos seus personagens terem virado mulheres, a Marvel lançou uma revista recentemente só de “Vingadoras”… coisa que a DC pratica desde meados dos anos 90 com a série AVES DE RAPINA, mas com personagens de origem própria, como Canário Negro, Caçadora e Oráculo.
Recentemente a Mulher-Maravilha “saiu do armário” e se revelou bissexual, mas a bem da verdade, quem lê gibi há anos sabe que isso sempre esteve subentendido. Se os editores não fizeram antes, era porque vivíamos tempos mais conservadores e a personagem vende muitos brinquedos. Bem diferente de pegar um cara namorador como o Homem de Gelo e decidir que ele vai ser gay simplesmente porque o escritor Brian Bendis está desconfortável com uma equipe de “cinco pessoas brancas” como os Novos X-Men. Então porque você inventou de trazer eles do passado, seu filho da puta? Se queria diversidade, porque não criou uma equipe com o Estrela Polar, um baita herói subaproveitado de imensos poderes? Ou porque não criou um NOVO PERSONAGEM com essas condições?
O que traz a verdadeira questão a BAILA: Qual foi a ÚLTIMA VEZ QUE A MARVEL criou um novo personagem pra valer? Deadpool e Cable, nos anos 90, foram “acidentes felizes”, e acabou nisso. Nos últimos vinte anos, a editora NÃO CRIA NADA DE NOVO, e acha mais fácil “desfigurar” um personagem estabelecido do que criar um novo. Eu gosto muito de Sam Wilson, mas como eu digo, quando a gente transforma ele no Capitão América, a gente perde o Falcão. Se a Marvel queria uma “Thor feminina” poderia ter dado uma reformulada na Valkiria, deusa asgardiana que também já teve identidade mortal. Mas o pior pra mim é o Hulk, tínhamos um personagem NOVO, EXCELENTE, que era AMADEUS CHO, um herói que resolvia as coisas só com o CÉREBRO, e somente pelo fato dele ser coreano e a Marvel ver que nenhum personagem grande tinha olhos puxados, resolveram torna-lo no Hulk. Por que não investir mais em Amadeus Cho? Ou criar um novo grande personagem asiático? E pensar que nos anos 70 um dos grandes sucessos de venda da Marvel era SHANG SHI, MESTRE DO KUNG FU. Onde está ele?
Para resolver o problema da diversidade, numa editora onde majoritariamente todos os grandes personagens eram brancos e heteros, a Marvel tomou o caminho mais fácil, que era simplesmente trocar suas identidades . Construir novos personagens, como a DC fez ao longo das décadas, não dá lucro imediato. Arlequina não foi sucesso imediato, nem a Mulher-Gato, ou a Batgirl, a Supergirl até ganhar sua série de TV até hoje anda “patinando” nos quadrinhos. Mas essa é a mesma senda que qualquer personagem de gibi – seja ele branco, negro, hetero, gay, protestante ou ateu tem que atravessar. O que não dá pra fazer é trapacear o leitor, tentando abusar da popularidade de uma MARCA, e trocar suas características simplesmente porque não fez o dever de casa na hora de REALMENTE CRIAR PERSONAGENS mais diversificados e inclusivos. E por esse motivo, a BATWOMAN e MEIA-NOITE sempre serão mais aceitos que RIRI WILLIAMS e o HOMEM DE GELO. Não são os leitores que rejeitam as minorias, o que eles realmente rejeitam é o oportunismo. Como o sucesso da Alex Danvers e Maggy Sawyer está aí pra comprovar.
DC Comics Diversidade 2

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