segunda-feira, 6 de maio de 2019

O gol de Lambari: relembre a primeira vitória colorada em São Paulo



FacebookTwittergoogle_plus




Colorado venceu no Pacaembu pelo Robertão de 1967 (Foto colorida pelo blog 1909 em Cores)

Neste sábado (04/05) o Inter está em São Paulo, onde enfrenta o Palmeiras em partida válida pela terceira rodada do Brasileirão. Embalada após emocionante triunfo sobre o Flamengo, a equipe colorada vai à capital paulista em busca de um bom resultado, confiando no positivo retrospecto atuando na cidade mais populosa do país. Afinal de contas, ao longo da história o município proporcionou excelentes lembranças à torcida vermelha. Hoje, rememoramos a primeira dessas, ocorrida em 1967.



Apesar da vitória no campeonato gaúcho de 1961, e da destacada participação na Taça Brasil de 1962, a década de 60 representava uma época de reconstrução do Clube, sintetizada na própria construção do Gigante da Beira-Rio. O Colorado reunia forças para dominar o Brasil na década seguinte.



Não bastasse deixar a hegemonia no Rio Grande ameaçada, a escassez de títulos riograndenses também limitava o clube geograficamente, uma vez que a Taça, único campeonato de dimensões nacionais, era disputada somente por campeões estaduais. Apenas em 1967 as federações paulista e carioca decidiram expandir o torneio Rio/São Paulo, o Robertão, de nome oficial Roberto Gomes Pedrosa.

Neste ano, duas equipes gaúchas, outra dupla mineira, além de um representante paranaense foram incluídos no certame, que passou a ser disputado por quinze participantes. Eram eles: Inter, Atlético Mineiro, Bangu, Botafogo, Cruzeiro, Corinthians, Ferroviário, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Palmeiras, Portuguesa de Desportos, Santos, São Paulo e Vasco.

Desiludidos, muitos colorados e coloradas da época confidenciam que a torcida se dividia entre apoiar os jogadores, nos Eucaliptos, e os pedreiros, no Beira-Rio. De volta às competições nacionais, a dois anos de inaugurar sua nova casa e contando com um elenco muito promissor, repleto de jovens craques, muitos deles formados no Celeiro de Ases; em 1967 o Clube do Povo enfim começou a sentir os bons ventos de beira do rio que a década que estava por vir reservava.






Jovem Bráulio, o ‘Garoto de Ouro’, treinando nos Eucaliptos.

Participar de um campeonato outrora restrito a equipes da região mais poderosa do país, no entanto, não foi simples. Argumentando que uma viagem até o Rio Grande do Sul seria extremamente custosa, os clubes do eixo exigiram garantias financeiras da dupla Gre-Nal. Em outras palavras, esperavam ter a certeza de que atuariam diante de casa cheia. Assim, por sua capacidade limitada, os Eucaliptos foram vetados pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), não restando alternativa à dupla Gre-Nal senão entrar em acordo pela utilização do Estádio Olímpico.

A união das direções dos rivais foi pautada por um sistema de caixa-único, pelo qual a renda das partidas realizadas no Olímpico seria igualmente dividida entre as equipes. Para otimizar a presença de público, inúmeras campanhas foram feitas convocando a torcida de um clube a prestigiar os jogos de outro, em nome do ‘progresso do futebol gaúcho’. Ir ao estádio, inclusive, era a melhor maneira de acompanhar o andamento do campeonato, tendo em vista que, naquele tempo, a transmissão futebolística era bastante precária, resumida a videotapes dos principais confrontos, normalmente transmitidos tarde da noite e com alguns dias de atraso; ou às imagens do Canal 100, via de regra restritas ao Maracanã, e que podiam ser conferidas somente nos cinemas, onde eram exibidas antes dos filmes.



O Robertão foi realizado em duas fases diferentes. Na primeira, as equipes participantes foram divididas em dois grupos, dos quais primeiro e segundo colocados avançariam para o quadrangular final. Integrante do chaveamento de Corinthians, Cruzeiro, Bangu, São Paulo, Fluminense e Botafogo, o Inter fez excelente campanha, classificando-se junto ao time do Parque São Jorge.



No quadrangular, o Colorado estreou com derrota para o Palmeiras. Na sequência, novo tropeço: empate por 1 a 1 com o Grêmio. Precisando vencer, o Clube do Povo foi a São Paulo, onde enfrentaria o Corinthians, líder do grupo.

Na véspera do confronto, Zezé Moreira, técnico corintiano, foi enfático ao declarar que a partida seria boa para seus comandados, pois o Inter “corria pouco”. Tamanha confiança encontrava sustentação no inconsistente retrospecto gaúcho em terras paulistas. Até aquele momento, equipe alguma do Rio Grande do Sul conseguira vencer atuando em São Paulo. Para piorar, o Corinthians defendia uma invencibilidade de quinze jogos. Definitivamente, a missão que despontava no horizonte colorado parecia bastante ingrata.



Marcada para às 16h, a partida teve seu início antecipado em 45 minutos pela Federação Paulista de Futebol. No momento do apito inicial, o Inter, do técnico Sérgio Torres, estava alinhado com os seguintes jogadores: Gainete, Laurício, Scala, Luiz Carlos, Sadi, Élton, Lambari, Bráulio, Joaquim, Dorinho e Carlitos. Já Zezé armou seu time com Marcial, Jair Marinho, Ditão, Clóvis, Maciel, Dino Sani, Rivellino, Bataglia, Tales, Silvio e Gilson Porto.

Curiosamente, a mudança de horário não foi divulgada de maneira efetiva para o público, o que resultou em grande parte da torcida da casa chegando ao Pacaembu apenas no intervalo. Exalando otimismo, fruto das declarações esperançosas de seu treinador, provavelmente estes torcedores foram surpreendidos com a excelente atuação colorada ao longo da segunda etapa.

Para aqueles que acompanharam aos primeiros 45 minutos, o domínio vermelho já era uma realidade. Após um início visivelmente equilibrado, a partida logo apresentou um Inter superior, em grande parte devido à genialidade de seu comandante, que escalou Élton como um líbero, reforçando a defesa, que esteve intransponível naquela tarde, e fortalecendo a saída de bola colorada. Quando no campo de ataque, o Clube do Povo contava com os incansáveis Dorinho e Lambari, que a todo momento assustavam a zaga paulista.

Aos 21 anos, o canhoto Dorinho infernizou a defesa paulista.
Nos anos seguintes, conquistaria 6 gauchões pelo Clube do Povo.

Apesar da boa atuação, os gaúchos não conseguiram abrir o placar na primeira etapa. Reiniciada a partida, o Clube do Povo seguiu melhor, obrigando Zezé a mudar sua equipe, apressando a entrada de Flávio Minuano no lugar de Sílvio. O centroavante oriundo do Celeiro de Ases, futuro artilheiro na caminhada campeã brasileira de 1975, ainda se recuperava de lesão, mas foi chamado depois de insistentes súplicas da torcida da casa. Embora comemorada, a substituição não trouxe mudanças para o panorama do jogo.

Ocupando o campo rival, determinada a fazer história, a equipe colorada cozinhava o gol que abriria o placar. Neste contexto, aos treze minutos, Lambari recebeu de Élton, na altura do meio de campo. O jovem, nascido em Santo Ângelo, pareceu encarnar os milhões de gaúchos que ansiavam por um triunfo nas terras bandeirantes. Partiu para cima dos zagueiros corintianos, driblando Ditão e Maciel, e, rapidamente, finalizou da entrada da área. Surpreendido, o goleiro Marcial custou a reagir, e acabou vendo a bola morrer no fundo de sua goleira.

Élton foi escalado como líbero pelo técnico Sérgio Torres

Em desvantagem no marcador, o Corinthians se mandou para o ataque. Com as saídas de Rivellino e Bataglia para as entradas de Nair e Marcos, os paulistas acumularam quatro atacantes dentro de campo. Ofensividade que deu mais espaços para o Colorado gaúcho, que acumulou chances desperdiçadas. Durante o jogo, Claudiomiro, que vivia sua temporada de estreia com a camisa vermelha, entrou em campo no lugar de Joaquim. Fazendo uma de suas primeiras partidas como profissional, o centroavante já se mostrava uma ótima alternativa para o ataque do Inter.

Os mandantes intensificaram a pressão nos minutos finais, mas pararam em Gainete. Assim, quando Alfredo Bernardo Tôrres apitou o fim da partida, foi oficializada a primeira vitória riograndense em solo paulista na história. Um triunfo extremamente complicado, e devidamente celebrado.



O Inter terminaria o campeonato como vice-campeão, melhorando o já notório resultado da Taça Brasil de 1962, quando fora terceiro colocado. Historicamente pioneiro para o Rio Grande do Sul, responsável por fincar definitivamente a bandeira gaúcha para além do Mampituba com a conquista do Brasileirão em 1975, e em territórios internacionais após a participação na Libertadores de 1976, seguida da final em 1980; foi também o Clube do Povo quem batizou, a partir da Praça Charles Miller, a maior cidade do país. Apenas mais um dos muitos feitos relevantes deste passado alvirrubro, até hoje tão festejado em nossos corações!

Ficha do jogo: Coletânea Helio Dias

Atualmente, as chuteiras usadas por Lambari se encontram expostas no Museu do Inter, que também conta com a bola da partida em seu acervo. Para conferir mais sobre este e outros grandes capítulos da belíssima história do Clube do Povo, visite o nosso Museu, aberto de terça a domingo, das 10h às 18h.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Em cores - Esquadrão Progresso - paginas 1 a 10